o design centrado no usuário das palestras
(eu ia escrever apenas um comentário para o caio no post dele sobre sua apresentação no interact, mas ficou tão grande que resolvi transformar em post)
caio,
eu estava lá na primeira fila de sua apresentação, e é claro que percebi o constrangimento, mas depois que li seu post ontem, fiquei ruminando algumas coisas. espero que você me perdoe a franqueza e entenda que são apenas críticas construtivas, ok?
como eu escrevi no post aí embaixo, houve uma certa rejeição do público à palestra da ana erthal, e eu brinquei que "nós somos o usuário, o conteúdo dela pode ser ótimo, mas se a interação não funciona, a culpa é dela, não nossa". acho que existem muitas similaridades entre a apresentação dela e a sua. ambas traziam temas muito interessantes. ambas foram apresentadas por profissionais renomados em suas áreas. ambas não empolgaram apesar do bom conteúdo. ambas foram excessivamente acadêmicas e monótonas (no caso dela, falo com base nos 10 minutos que vi antes de mudar de palco).
a ironia é que no seu caso, creio que a resposta para o "problema" da sua apresentação estava nela mesma. faltou usabilidade. faltou exatamente o equilíbrio entre as duas vertentes. faltou o despertar das emoções nos seus usuários/ouvintes. você quis mostrar que a usabilidade não implicava em caretice, mas escolheu uma forma extremamente careta de dizer isso!
o meio continua sendo a mensagem, e é cada vez mais difícil separar um do outro. mas assim como eu defendi a tv no juri simulado da faculdade, continuo acreditando que o meio (e a mensagem) se molda ao uso que fazemos dele. não importa se você faz uma apresentação em powerpoint, em flash ou em cartolina, ou se você usa pc ou mac, mas você tem que usar o meio que tem para seduzir seu usuário. você admitiu, lá na palestra, que não tinha competência pra fazer um powerpoint "bonito", mas disse como se aquilo não fosse relevante para o resultado final, já que o conteúdo é que importa. mas é. é relevante demais, é fundamental.
e eu não acredito que você não tenha competência para fazer melhor. talvez não tenha tido tempo, talvez não tenha mesmo se dado conta do quanto isso era importante, mas eu sei que você é capaz. use frases mais curtas, ilustre cada slide, dê mais exemplos, resuma alguns pensamentos em imagens! não precisa ficar "bonito", mas precisa ficar atrativo. não sei se você já viu alguma apresentação do gil giardelli, ele falou lá de manhã. os slides dele são toscos, até feios, mas são extremamente atrativos e envolventes!
faça um exercício de imaginação. volte uns 10, 12 anos no tempo e lembre daquele caio que ia para a fafich de calça jeans e camiseta, que participava do campeonato intergaláctico de mofão do cec, que ouvia jurubeba e tomava vinho vagabundo de garrafão com gelo seco. aquele caio era a maioria absoluta da sua audiência no interact. você acha mesmo que aquele caio iria ficar empolgado com a apresentação desse caio de hoje? ou iria se levantar pra ver o cara do myspace falar no outro palco?
você não precisa se enfiar num macacão laranja adornado com fitas reflexivas se este não é o seu estilo (certamente seria um desastre também), mas é preciso se aproximar do seu público, é preciso centrar no usuário!
e isso implica também se adequar ao ambiente. desde antes do evento estava bem claro que a proposta do segundo palco era aproximar ao máximo da experiência proporcionada pelo ambiente virtual da internet, em que as informações são mais rápidas e a interação é mais fácil. o que você chamou de "ritmo de pastelaria", é tão somente uma simulação do ritmo em que vive a imensa maioria do seu público. quem deveria então se adequar?
como toda experiência, é verdade que houve erros e acertos. a interrupção foi realmente brusca (imagino como deve ter sido desagradável pra você) e seria inadmissível em um ambiente convencional de palestras. mas se pensarmos que não foi por acaso que aquele palco foi montado na boate do hotel, não justifico a interrupção, mas de certa forma entendo. o luli estava ali fazendo o trabalho dele, igual a um dj que precisa sentir o público e manter a pista cheia. isso muitas vezes significa interromper uma música que pode ser genial, mas que não está combinando ali. concordo que poderia ser com mais tato, mas não deixo de perceber que até isso se encaixa na experiência proposta. afinal, na internet, se você se vê em um site boring, não vai pedir desculpas antes de fechar a janela e continuar seu caminho, vai?
se te consola, eu acho que, pelo menos para mim, se uma apresentação me fez pensar a ponto de escrever desse tanto, ela certamente foi muito válida. talvez seja até mais interessante aprender analisando os erros do que simplesmente observando uma série de acertos.
abs,
clarice
Postado por
Clarice, segunda-feira, maio 25, 2009.
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