Clarice Maia Scotti

a popularização twitter (algumas divagações)

nesses dias pós-twitter-no-fantástico-e-na-oprah eu pensei em retuitar esse texto que indiquei uns dias atrás, mas achei que ele valia mais que 140 caracteres (talvez seja por isso que não desisto de vez do blog). acho que ele aborda uma questão fundamental pra ser pensada por quem trabalha com internet. e eu ousaria dizer que vale também pra quem ainda tem alguma preocupação com sua própria humanidade.

eu fico até desanimada quando vejo tantos usuários lamentando a chamada "orkutização do twitter". é como se a "povança" estivesse contaminando uma espécie de refúgio sagrado. não bastasse o preconceito absurdo contra "a povança", seja qual for a definição disso pra essas pessoas, há ainda uma arrogância imensa em acreditar que todo mundo que poderia ter algo relevante pra dizer já estava no twitter antes da época ou do fantástico. o twitter não é um refúgio, muito menos sagrado, é apenas mais um (por mais inovador que seja) espaço de interação com o mundo que sempre existiu, que está cheio de cabeças pensantes. a descoberta e a ocupação do twitter era questão de tempo. certamente a aparição na mass media acelerou o processo, mas sinceramente, alguém aí achava que isso não ia acontecer?

não aconteceu mais que o inevitável. e como o inevitável é também imprevisível e incontrolável, eu vejo essa arrogância toda como um grande disfarce para o medo da mudança, o medo de sair da confortável posição de "referência confiável". para quem não se importa com isso, nada muda. para todos o twitter oferece a mesma liberdade: entra quem quer, continua quem quer, sai quem (e quando) quer e segue-se quem quer.

eu, particularmente, não canso de me fascinar com as "reviravoltas" da web. uso o twitter pra informação e diversão, não tô nem aí pra seguidores e espero encontrar gente nova e interessante para seguir, seja lá quando ela descobriu o twitter. ao mesmo tempo, profissionalmente, trabalho com mídias sociais e não posso ignorar a existência dos rankings, listas e ferramentas de medição de influência. mas não posso ignorar também que o aumento da "população" do twitter aumenta exponencialmente as possibilidades de uso do espaço. em ambos os casos, tô curiosa pra ver o que vai surgir daí.

peço licença para repetir aqui a última frase do texto que linkei lá em cima: as tais redes sociais de que todos falam só serão realmente verdadeiras quando forem invadidas pelo povão. só aí o "social" do nome fará algum sentido.

acho importante lembrar também que a grande característica dessa chamada "web 2.0" é a colaboração. o declínio do modelo "um-para-todos" em favor do "todos-para-todos". a possibilidade (cada vez mais inevitável) de cada indivíduo interferir, complementar, questionar, subverter, reinventar a mensagem, numa espiral sem fim. isso sim é a verdadeira revolução, o twitter é só a praça, o boteco do momento. claro que, mesmo com toda "democracia", os grupos vão encontrando seus locais na web da mesma forma que no mundo físico. a novidade é que na web todos podem ir e conhecer todas as suas alternativas, e se juntar, em uma ou mais praças, por uma opção, por afinidades de interesses, não por uma determinação sócio-financeira.

fazer parte de tudo isso é uma oportunidade incrível, e eu me sinto grata.

mas também me sinto triste ao constatar que toda essa transformação ainda não basta para transformar a essência de cada ser humano. porque (na maioria das vezes) somos seres humanos que estamos por trás dos avatares. são humanos aqueles que se acham muito revolucionários por participar de diversos projetos colaborativos, mas agem como um síndico rabujento que até tolera a presença da povança na web, mas exige que ela use o elevador de serviço.

por sorte nossa, aqui essas pessoas não têm esse poder. que venha a povança, e com ela a esperança de que uma web realmente social seja um dia uma realidade.


[ps] antes que alguém venha questionar porque eu brinquei com a baleia-oprah e pus meu nick no site que pesquisa quem tava lá antes do fantástico, eu esclareço que sei separar o que é brincadeira. na minha família se diz que "perdemos um amigo mas não perdemos a piada", logo, não tenho nada contra a brincadeira. desde que também se saiba falar sério.

Postado por Clarice, terça-feira, abril 21, 2009.


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